sábado, 22 de setembro de 2012

"Missio Dei", a missão de Deus



O conceito Missio Dei emerge num momento de crise na atualidade, em meio à perspectiva do rompimento da cultura moderna e a entrada na pós-modernidade. David J. Bosch conceitua esse termo muito bem em seu tratado de missão intitulado Missão Transformadora. Bosch realiza uma leitura profícua dos diferentes paradigmas de missão ao longo da história cristã nessa obra, elucidando que não é a primeira vez que estamos rumando para um novo paradigma da teologia de missão. Analisando os paradigmas anteriores, desde a igreja primitiva dos primeiros séculos, Bosch observa que cada um respondeu ao seu tempo, diante da observação frente à matriz neotestamentária.
Missio Dei afirma que a missão é obra de Deus, que perpassa e supera as barreiras denominacionais e nos lança numa visão ampla a partir da qual compreendermos que Deus interage com o mundo através da igreja. Bosch[1] esclarece essa questão afirmando: "ela é um empreendimento inteiramente ambivalente executado no contexto da tensão entre procedência divina e confusão humana". Zwetsch, ao refletir sobre a missio Dei, tece o seguinte comentário:

Não podemos separar Deus e o mundo. Quando falamos de Deus, imediatamente temos de falar do mundo como âmbito de sua revelação e atuação criadora e salvadora ou restauradora. A atenção e o amor de Deus transcendem a esfera do que entendemos por religião, pois dizem respeito ao mundo todo (humanidade, natureza, cosmos). Assim, podemos entender missão como “participação na existência de Deus no mundo”.[2]

Com isso, Missio Dei está relacionada ao agir de Deus no mundo, que vive em constantes transformações, estando ela intimamente ligada à natureza de Deus. Logo, faz-se necessária uma releitura, análise e reelaboração, em nossa teologia de missão uma vez que a missão está integrada ao mundo.
Roldán nos apresenta um panorama sobre as mudanças históricas no cenário mundial, que confronta a igreja, com sua teologia:

Ninguém tem dúvida de que, hoje em dia, a partir dos eventos históricos acontecidos na Europa nos últimos anos ___ a queda do muro de Berlin, a perestroika, o desaparecimento da URSS como entidade ___ deram ao mundo um novo mapa geopolítico e ideológico. Falou-se do “fim das ideologias” e do triunfo ___ considerado definitivo ___ do capitalismo e do neoliberalismo. Hoje estamos na etapa de “globalização”, sendo o Mercosul um expoente claro desse fenômeno[3].

Entendendo que missio Dei é a missão de Deus no mundo e a igreja é parte integrante dela, não a criadora da missão, pois essa está ancorada em Deus. Como observa Carriker sobre a origem da missão:

“A missão antes de ter uma conotação humana que fala da tarefa da igreja, antes de ser da igreja, é de Deus. Esta perspectiva nos guarda contra toda atitude de auto-suficiência e independência na tarefa missionária” [4]

É importante considerar esses diferentes eventos, pois eles nos desafiam a novas reflexões frente às significativas mudanças ocorridas no cenário mundial e no latino-americano.

Autor: Edson Miranda



[1] BOSCH, David J. Missão transformadora. Mudanças de paradigma na teologia da missão. São Leopoldo: Sinodal, EST,          2002. 
[2] ZWETSCH, Roberto E. Missão como com-paixão. Por uma teologia da missão em perspectiva latino-americana. São Leopoldo: EST, 2007
[3] ROLDÁN, Alberto Fernando. Para que serve a teologia? Método, história, pós-modernismo. Curitiba: Descoberta, 2000
[4] Extraído da citação no artigo do Rev. Gildácio Reis: Paradigmas Missiológicos no Novo Testamento.

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