segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Carta de John Wesley a John Trembath (17/08/1760)


John Trembathvrem,

O que tem prejudicado a sua vida no passado e, lamento dizer, até hoje, é a sua negligência quanto à leitura. Negligência tal que, por sua vez, chega a prejudicar até o próprio desejo de ler.

Dificilmente me recordo de um pregador que leia tão pouco. Eis a razão porque seu talento em pregar não aumenta. Você continua pregando como pregava há sete anos; com emoção, porém sem profundidade.

Falta variedade e conteúdo.

A leitura poderá preencher estas lacunas com meditação e oração diária. Você prejudica a si mesmo em omitir tal prática.

Desprezo à leitura impede alguém de ser um pregador maduro. Até para ser um cristão íntegro é mister a leitura adequada. Queira Deus que começasse logo!

Separe uma parte do dia para este exercício. Assim adquirirá o sabor por aquilo que faltava; o que parece monótono no início se tornará com o tempo um prazer.

Com ou sem disposição leia e ore diariamente. É para a sua própria vida; não existe outro caminho.

Faltando isso será para sempre um pregador superficial.
John Wesley
Em 17 de agosto de 1760

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A sociedade do espetáculo e a coisificação do homem


Eu poderia eu gritar pelas ruas: Me tornei uma coisa! Me tornei descartável! Sou agora um objeto de consumo imediato! O homem virou uma coisa em meio a tantas outras descartáveis. Se assim eu fizesse estaria consolidando minha posição de coisa... de espetáculo aos curiosos.

O caso de venda de virgindade parece ser alarmante: a lei da oferta e procura definindo quanto vale a virgindade de uma pessoa. Tal comercialização não é uma transação comercial ilegal, realizada na escuridão da noite, nos becos das áreas urbanas... nas casas noturnas. Trata-se uma comercialização aberta na rede mundial de computadores. Tudo indica que viramos uma "coisa"!


O homem passou a ser um objeto necessária ao funcionamento do sistema de mercado (inclui-se aqui as mulheres, que talvez e infelizmente são mais “coisa” que os homens). Nesse sistema ambos tornaram-se também mercadorias. Seu preço? Variando conforme o prazer ou benefício temporário capaz de proporcionar, ou ainda à sua capacidade de
criar outras coisas.

Vivemos um processo de coisificação do homem. Os elementos da vida social perderam seu valor essencial e passaram a ser avaliados como “coisa”, ou seja, quanto a sua utilidade e capacidade de satisfazer certos interesses de outros. O homem desumaniza-se e vira mero espetáculo a outros igualmente desumanizados. Ora, a muito já se denunciava que vivemos na “sociedade do espetáculo”, mas agora maximizado pelo próprio espetáculo. Mortes são vistas como entretenimento televisivo. Desempregados como meras estatísticas informativas do noticiário. Pesquisas são apenas para “matar a curiosidade” dos leitores também coisificados. Quanto mais desgraças, mas os jornais vendem, mas Ibope para a TV! 


Norbert Elias explicou, em certa medida, o processo civilizatório. Cabe agora explicar o processo de coisificação que está em marcha... Gritar que somos coisas seria apenas mais uma forma de sermos meros espetáculos? Ops: acho que acabei de ser um...

Fonte: Blog Café com sociologia - http://www.cafecomsociologia.com

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Mudanças na teologia de missão frente pós-modernidade



A pós-modernidade tem sua complexidade em nível de definição, mas a priori, a partir de Roldán podemos entender:
"A pós-modernidade como um fenômeno cultural que acontece a nível mundial, de modo especial no Ocidente, e que questiona a racionalidade da modernidade, apresentando-se com vencedora da modernidade que caracterizou a cultura anterior" .
Juan Martín Velasco amplia definido:

"Pós-modernidade significa, assim, uma reelaboração, releitura ou reinterpretação da modernidade, ou seja, um processo teórico de questionamento e ao mesmo tempo de radicalização da categoria sociocultural, que o processo de modernização originou nas sociedades avançadas, do ponto de vista do processo da modernização"
Toda essa releitura ou reinterpretação da modernidade representa em nosso cenário atual, um rompimento com diferentes modelos de pensamentos reinantes na modernidade, começando com os pressupostos da razão. Roldán interpreta esse fenômeno cultural como uma excelente oportunidade de responder criativamente nesse tempo, nisto, cabe a teologia elucidar a fé cristã, oportunizando a Igreja de Cristo, alicerces para uma caminhada contextualizada da missão cristã no contexto urbano.

O Prof. Roberto Zwetsch em sua tese de doutorado nos traz uma significativa exposição relacionada a questões introdutórias da teologia de missão. Parte do seu escopo ressalta as diferentes concepções sobre essa temática no contexto da fé cristã, tecendo um panorama da historicidade da teologia prática e de missão. Nisso, nos remete a diferentes cenários da cristandade, localizando na área da teologia prática as bases para a teologia de missão, onde aponta o aspecto hermenêutico como componente estrutural, nesse processo de passagem do paradigma moderno para a pós-modernidade.

O Zwetsch, em sua pontuação localiza muito bem a crise hodierna, nos apresentando, que residi nisto um grande desafio. A teologia de missão, com isso encontra-se com "a crise civilizatória que tem como pano de fundo a pergunta pelo sentido da vida neste limitado planeta", que mostram oportunidade e desafio para a igreja e sua teologia; e como disse David J. Bosch "se a atmosfera de ausência de crise ainda subsiste em muitas partes do Ocidente, isso é simplesmente resultado de uma perigosa ilusão" . Essa pontuação nos leva a um caminho de confronto sobre a percepção da realidade no mundo urbano, onde os valores têm sido relativizados e o pluralismo tem apresentado diferentes caminhos em meio à experiência cotidiana. Zwetsch argumenta:

A teologia cristã trabalha a partir da perspectiva da fé, é verdade (Hebreus 11.1). Mas para ser ouvida e encontrar credibilidade, ela precisará apresentar razões, argumentos e visões, que tenham plausibilidade. Ela necessitará oferecer um discurso que reafirme uma fé que caminha com os pés no chão de uma história plena de realizações as mais grandiosas, mas ao mesmo tempo marcada por tragédias e um nível de sofrimento humano difícil de mensurar.
Considerar a tensão entre a teoria e a prática teológica no contexto urbano juntamente com a crise hodierna, novos questionamentos pertinentes nascem, em direção a contextualização da teologia da Missão no mundo urbano. Como Zwetsch sinaliza:
"[...] a teologia da missão no contexto latino-americano deve ser vista como uma disciplina da teologia prática, ainda que seu método seja interdisciplinar e dialógico, em permanente diálogo e interação com as demais áreas da teologia e das ciências humanas e sociais" .
Esse ponto abrange a necessidade de construir reflexão teológica integrada à prática contextualizada. Consequentimente é ressaltado que a prática precisa de novas avaliações e novas reflexões, que automaticamente responderão as indagações do contexto urbano; isso indica um romper de paradigma que traz incertezas como afirma Bosch:
"um período de mudança de paradigma constitui um período de profunda incerteza – e essa incerteza parece ser uma das poucas constantes da era contemporânea e uma dos fatores que geram fortes reações no sentido de ser permanecer com o paradigma iluminista, a despeito de todos os sinais que apontam para seu esboroamento" 
Entender essa complexidade que envolve esse tema torna-se basilar na atual crise contemporânea, rumo a construção de um novo paradigma da teologia de missão, para melhor dialogar num mundo pós-moderno; refletindo uma teologia prática, a fim de instrumentalizar a igreja, em suas missões.



Autor: Edson MIranda


___________________
1 - ROLDÁN, Alberto Fernando, Para que serve a teologia? Método, história, pós-modernismo. Curitiba: Descoberta, 2000.
2 - VELASCO apud ROLDÁN, Alberto Fernando, 2000.
3 - ZWETSCH, Roberto E. Missão como com-paixão. Por uma teologia da missão em perspectiva latino-americana. São Leopoldo: EST, 2007
4 - BOSCH, David J. Missão transformadora. Mudanças de paradigma na teologia da missão. São Leopoldo: Sinodal, EST, 2002






sábado, 22 de setembro de 2012

"Missio Dei", a missão de Deus



O conceito Missio Dei emerge num momento de crise na atualidade, em meio à perspectiva do rompimento da cultura moderna e a entrada na pós-modernidade. David J. Bosch conceitua esse termo muito bem em seu tratado de missão intitulado Missão Transformadora. Bosch realiza uma leitura profícua dos diferentes paradigmas de missão ao longo da história cristã nessa obra, elucidando que não é a primeira vez que estamos rumando para um novo paradigma da teologia de missão. Analisando os paradigmas anteriores, desde a igreja primitiva dos primeiros séculos, Bosch observa que cada um respondeu ao seu tempo, diante da observação frente à matriz neotestamentária.
Missio Dei afirma que a missão é obra de Deus, que perpassa e supera as barreiras denominacionais e nos lança numa visão ampla a partir da qual compreendermos que Deus interage com o mundo através da igreja. Bosch[1] esclarece essa questão afirmando: "ela é um empreendimento inteiramente ambivalente executado no contexto da tensão entre procedência divina e confusão humana". Zwetsch, ao refletir sobre a missio Dei, tece o seguinte comentário:

Não podemos separar Deus e o mundo. Quando falamos de Deus, imediatamente temos de falar do mundo como âmbito de sua revelação e atuação criadora e salvadora ou restauradora. A atenção e o amor de Deus transcendem a esfera do que entendemos por religião, pois dizem respeito ao mundo todo (humanidade, natureza, cosmos). Assim, podemos entender missão como “participação na existência de Deus no mundo”.[2]

Com isso, Missio Dei está relacionada ao agir de Deus no mundo, que vive em constantes transformações, estando ela intimamente ligada à natureza de Deus. Logo, faz-se necessária uma releitura, análise e reelaboração, em nossa teologia de missão uma vez que a missão está integrada ao mundo.
Roldán nos apresenta um panorama sobre as mudanças históricas no cenário mundial, que confronta a igreja, com sua teologia:

Ninguém tem dúvida de que, hoje em dia, a partir dos eventos históricos acontecidos na Europa nos últimos anos ___ a queda do muro de Berlin, a perestroika, o desaparecimento da URSS como entidade ___ deram ao mundo um novo mapa geopolítico e ideológico. Falou-se do “fim das ideologias” e do triunfo ___ considerado definitivo ___ do capitalismo e do neoliberalismo. Hoje estamos na etapa de “globalização”, sendo o Mercosul um expoente claro desse fenômeno[3].

Entendendo que missio Dei é a missão de Deus no mundo e a igreja é parte integrante dela, não a criadora da missão, pois essa está ancorada em Deus. Como observa Carriker sobre a origem da missão:

“A missão antes de ter uma conotação humana que fala da tarefa da igreja, antes de ser da igreja, é de Deus. Esta perspectiva nos guarda contra toda atitude de auto-suficiência e independência na tarefa missionária” [4]

É importante considerar esses diferentes eventos, pois eles nos desafiam a novas reflexões frente às significativas mudanças ocorridas no cenário mundial e no latino-americano.

Autor: Edson Miranda



[1] BOSCH, David J. Missão transformadora. Mudanças de paradigma na teologia da missão. São Leopoldo: Sinodal, EST,          2002. 
[2] ZWETSCH, Roberto E. Missão como com-paixão. Por uma teologia da missão em perspectiva latino-americana. São Leopoldo: EST, 2007
[3] ROLDÁN, Alberto Fernando. Para que serve a teologia? Método, história, pós-modernismo. Curitiba: Descoberta, 2000
[4] Extraído da citação no artigo do Rev. Gildácio Reis: Paradigmas Missiológicos no Novo Testamento.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O perigo de uma única história


" O perigo de uma única história" 

Por Chimamanda Adichie, uma escritora nigeriana, no TED, dando uma lição para toda a vida. 



..:: Parte 1::..

    

..:: Parte 2 ::..


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Uma cosmovisão apurada, na didática cotidiana.



Caminhado pela historicidade da Didática, é possível ver que houve homens em diferente séculos, que se aplicaram a buscar renovação e contextualização da proposta educacional. Cada um trazendo com seus esforços grandes melhorias, na sociedade em que viviam. Hoje vivemos em um contexto pós-moderno, que desafiam os educadores a terem uma cosmovisão apurada, em sua didática cotidiana, visando à formação integral de cada indivíduo.



A formação teórica da didática começou a partir de Comênio no séc. XVII, que desenvolveu princípios bem avançados para sua época, deixando um legado chamado: Didática Magna. Teve como seu agente motivador a seguinte frase: "Ensinar tudo a todos". E outro pensadores como, Rousseau, Pestalozzi, Herbart, que contribuíram significativamente para o pensar de outros pedagogos.


A didática é uma disciplina da pedagogia, que se aplica no processo de ensino e a aprendizagem; investigando as condições e formas que vigoram no ensino e ao mesmo tempo os fatos reais. Atuando no desenvolvimento das capacidades cognitivas dos alunos. "O ensino por mais simples que possa parecer à primeira vista, é uma atividade complexa: envolve tanto condições externas com condições internas das situações didáticas".


As tendências no Brasil, na prática da didática, transita por vários métodos desde a tradicional, que ainda prevalece nas instituições educacionais, visando somente a transmissão de conhecimento; a didática ativa que valoriza mais o processo de aprendizagem e os meios que visa o desenvolvimento do ser pensante, dando menos importância aos conhecimento sistemáticos.


É nítido, que a tarefa do educador é muito mais ampla e complexa do que se tem visto em nosso contexto educacional pos-moderno, quando percorremos o caminho da história da didática. Tornando vivo o papel do educador, que nesse tempo precisa se comprometer com aprendizagem do aluno, que é um ser integral e participativo de uma sociedade local. Como Rega afirma: é possível desenvolver uma metodologia que englobe o ser como um todo, possibilitando uma formação integral.

Autor: Edson Miranda

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Um povo num mesmo pé de igualdade


 Um caso narrado por Paulo Freire...


Foi no interior do Chile, numa casa onde os camponeses estavam inibidos, sem querer discutir comigo, dizendo que eu era doutor. Então propus o seguinte jogo:



Eu faço uma pergunta e se vocês não souberem, eu marco um gol. Em seguida vocês me perguntam e se eu não souber é vocês que marcam.


Peguei um giz e fui pro quadro negro. Então, de propósito, perguntei: 

                Eu gostaria de saber o que é a hermenêutica socrática?

Já disse um treco difícil, que veio de mim, um intelectual. Eles ficaram rindo, sem saber lá o que era aquilo. Aí botei um gol pra mim. Era a vez deles. Um camponês levanta-se e me faz uma pergunta sobre semeadura. Eu entendia pipocas: "Como semear num o que? Ai perdi, ficou um gol a um. Fiz a segunda pergunta:

               O que é alienação em Hegel?

Não sabiam. Dois a um. Aí outro se levantou e me fez um pergunta sobre praga. Outro gol deles.

Bem, foi um negócio maravilhoso. Chegou 10 a 10 e as pessoas lá acabaram se convencendo, no final do jogo, que na verdade: "ninguém ignora tudo,ninguém sabe tudo!".



Extraído do livro: comunicação interpessoal, Antonio Carlos Moreira